Retiro de Prajna paramitta e Presença 13, 14 e 15 de abril

Retiro de prática e ensinamentos sobre a vacuidade,
sobre liberdade e luminosidade - temas disponíveis
no Sutra do Coração - Prajna Paramitta.

[gravado no retiro do mesmo assunto em São Paulo, set de 2011]


"Todos os seres tem a natureza primordial, estamos na mandala primordial, tudo bem, não tem perigo nenhum. A nossa dificuldade é que, nós construímos as bolhas de realidade, não percebemos que estamos fazendo isto, penetramos em bolhas específicas, e ali dentro, temos a experiência do que é chamado Samsara. Nesta Roda da Vida nós penetramos através dos elementos, construímos coisas artificiais, tentamos sustentar aquilo de qualquer jeito, nos identificamos com aquilo que aspiramos. Surge uma identidade que opera de forma cada vez mais hábil, ou seja, cada vez mais responsiva, cada vez menos consciente, no sentido de ter uma avaliação sobre sua própria operação." Lama Padma Samten


Para ampliar nossa perceção e aprofundar, precisamos aquietar a mente para ver e desarmar as experiência que nos aprisionam. E praticar as etapas de visão e meditação para entrarmos na ação dos bodisatvas. Para tanto, estamos proporcionando estes momentos através da prática formal no Cebb, e espaços de retiro para aprofundamento. Venha compartilhar conosco!



13/04/2012 - Sexta-feira
18:30 - Chegada, jantar e acomodações
20:00 - Puja 
21:00h - 22:30 - Ensinamentos 


14/04/2012 - Sábado
5:30 - Meditação 
6:30 - Puja 
7:30 - 8h30 - Café da manhã 
9:00 - Meditação
10:00 - 12:00 - Ensinamentos 
14:00 - Meditação
15:30 - 17:30 - Ensinamentos
Coffe
Atividade física até 18:30
18:30 - 19:30 - Jantar
19:30 - 20:15 - Puja
20:15 - Meditação
21:00h - 22:30 - Ensinamentos 

15/04/2012 - Domingo
5:30 - Meditação 
6:30 - Puja 
7:30 - 8h30 - Café da manhã 
9:00 - Meditação
10:00 - 12:00 - Ensinamentos
14:30 - 17:30 - Meditação
Coffe
18:00 - Encerramento


Onde: CEPAT
Contribuição sugerida: R$ 220,00
Contato: Bernadete (41) 8818-9989 e Eloiza (41)9207-0043 | 3264-8120
Levar um cobertor para colocar no chão

Como Chegar:




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Pronunciamento de Lama Padma Samten 1/4





Discurso do Lama Padma Samten durante sessão solene quando recebeu o título de Cidadão Honorário do Paraná, realizada na Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, dia 19 de novembro de 2008.




Eu recebo esse título de cidadão do Paraná com grande honra, com grande felicidade. Ainda assim, eu não gostaria de assumir essas qualidades como qualidades pessoais. Na verdade, na visão budista, nós dizemos: “Todos os seres têm a natureza de Buda”. Não apenas essa aspiração pela paz, natural em todos nós, mas todos nós temos essa natureza de Buda, essa natureza ilimitada. Quando os budistas falam em natureza de Buda, eles não limitam aos budistas, eles olham isso como natureza divina de todos os seres.
Quando nós pensamos na paz, pensamos que essa palavra se torna mais falada quando os tempos são difíceis. No pensamento taoísta se diz que, quando nós falamos em justiça é porque falta justiça. Quando falamos de comida, é porque há fome. Quando falamos de paz é porque os tempos são difíceis.
Na verdade, na visão budista, a nossa natureza é uma natureza de paz. As várias tradições religiosas se referem a isso. Vocês também podem perceber, nesse aspecto, que a paz não exige esforço, já a guerra exige esforço. Quando observamos com cuidado a nossa situação, vemos que à medida que seguimos pela cultura de paz, as coisas se resolvem, as pessoas são felizes. Quando abandonamos a visão da cultura de paz, temos problemas.
Uma das percepções dos meditantes, diz respeito à impermanência. Nós vemos Samsara, ou Maya, ou o mundo ilusório como algo que está preso a ciclos. Esses ciclos se manifestam como períodos em que parece que tudo está bem, seguidos de períodos de crise. Esse aspecto cíclico é perfeitamente natural dentro de Samsara ou do mundo ilusório ou de Maya. No entanto, mesmo nos períodos de crise, podemos perceber que a própria crise, de modo geral, é algo ilusório também.
Hoje estamos vivendo, na linguagem dos jornais, o derretimento do sistema financeiro. Mais de 17 bancos americanos quebraram ou foram absorvidos. Quando vivemos isso, fica muito claro esse aspecto quase ilusório, no sentido de que o sol continua se levantando a leste e se pondo a oeste; as plantas seguem crescendo; os rios seguem correndo, e nisso não há crise.
A crise passa a existir quando olhamos na tela dos computadores a cotação de coisas abstratas como o valor da moeda, o valor das ações. Isso nos permite ver o quão afastados nós estamos das dimensões mais profundas. Se nós fossemos olhar o mundo real, as crises se manifestam também, mas elas não surgem na forma de cotação da bolsa ou da cotação das moedas, que caracterizam a crise de hoje. A crise surge pela destruição das florestas, pelo empobrecimento da terra, pelo esgotamento dos recursos, pela destruição dos rios. Isso significa crise.
Quando por exemplo, organizamos ou planejamos coisas ameaçadoras: a expansão das centrais nucleares, que se prevê hoje no próprio território brasileiro (a construção de uma central por ano). Isso sim devemos pensar como crise porque significaria levar, além do razoável, a destruição e ameaça aos seres humanos.
Eu fui um dos consultores independentes, quando houve o acidente de Goiânia, em 1986. O Governo Federal me convidou representando a comunidade acadêmica, a comunidade dos cientistas. Eu estive lá.  Esse acidente de Goiânia se traduziu pela contaminação produzida por 1 grama de Cs137 (Césio). As centrais nucleares têm em torno que 100 toneladas de material radioativo, sendo que um terço desse material precisa ser reciclado a cada ano, ou seja, 33 toneladas por ano. Parte desse material é reutilizado e, pelo menos, a sua metade se torna lixo nuclear.
Hoje as autoridades pensam que lixo nuclear não é um problema, porque esse material fica guardado dentro das próprias centrais nucleares. Porém, as centrais têm uma vida de 30 anos. Após isso, elas ficam contaminadas e têm que ser desativadas. Ao serem desativadas, elas têm que ser guardadas, portanto esse material precisa ser guardado até que ele desapareça naturalmente. Há uma quantidade muito grande de  Pu239 (Plutônio) dentro desse material, uma das razões pelas quais as centrais nucleares são feitas, porque o Pu239 é uma material compacto para a produção de bombas nucleares. O Pu239 tem uma vida de 500.000 anos. Significa que 100 Kg de Pu239, em 500.000 anos, decai a 50 Kg. Isso quer dizer que teremos que guardar esse material por um tempo além de qualquer perspectiva histórica que possamos conhecer.
Eu trago isso para que possamos entender melhor as palavras de Allan Grisman, ex-presidente do Bando Central Americano, quando se revelou surpreso pelo fato de que a inteligência financeira não é capaz de preservar, nem mesmo, as instituições financeiras. Então esse é um momento muito importante porque fica muito evidente que não podemos confiar na inteligência financeira, como a inteligência que dirige os destinos humanos.
Eu lembro de quando Sua Santidade o Dalai Lama esteve e também falou na Assembléia Legislativa de Porto Alegre. Foi tocado o hino nacional tibetano pela orquestra sinfônica, a bandeira tibetana subiu junto com a brasileira, houve execução do hino brasileiro. Sua Santidade lembrava a importância do mundo político, a importância das autoridades, a importância de um Estado de direito e aqui, enquanto recitávamos o hino nacional e eu ouvia, como ouvido, os termos de que agora eu sou um cidadão honorário do Estado do Paraná, eu lembrava o fato de que nós somos os donos desta terra, ela nos pertence. E as autoridades representam isso. Nem todos os países, nem todas as nações, ou todos os povos têm esse privilégio e nós estamos aqui exercendo esse privilégio. Eu me sinto muito honrado, porque os donos desta terra me oferecem esse título de cidadão honorário desta terra.
Então é muito importante que nesse momento, lembremos da nossa condição humana e que assumamos os destinos humanos. Não podemos deixar que os pensamentos financeiros dirijam os destinos humanos. Nós, seres humanos, precisamos dirigi-los. Precisamos de valores humanos para dirigirmos os nossos destinos. Os seres humanos, se não estiverem dirigidos pelo pensamento financeiro, não farão o que têm feito. E, nesse momento, é muito importante entender que a cultura de paz traz felicidade a todos nós, mas o pensamento financeiro debate e derruba o pensamento ecológico e os valores mais elevados. Esse pensamento financeiro derruba a si mesmo e não é confiável nem mesmo às instituições financeiras, como o ex-presidente do Bando Central americano, Allan Grisman, menciona.

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Pronunciamento de Lama Padma Samten 2/4


Na visão budista, há uma dimensão divina em todos nós. Essa dimensão divina nos permite fazer ações positivas ou negativas. Sua Santidade Dalai Lama dizia, logo após o ataque às torres de Nova Iorque: “A inteligência que atacou as torres é a mesma inteligência que poderia ter feito ações muito positivas”.

Nós temos essa inteligência e é importante exercê-la de uma forma adequada. Quando exercemos isso de uma forma positiva, geramos felicidade a nós e aos outros seres. Quando agimos de uma forma descuidada, negativa, causamos sofrimento aos outros e a nós mesmos.
Quando as torres foram atingidas, houve um grande movimento de apoio à nação americana, houve uma maturidade em todas as nações, no sentido de nós imaginarmos que aspiraríamos efetivamente à construção de uma cultura de paz. Isso não se deu. Na seqüência nós vimos uma guerra injustificada, e agora, ao final desses 8 anos, o próprio povo americano reconhece isso, coisa que os outros povos do planeta já haviam reconhecido. Então, nós desperdiçamos essa oportunidade de construir uma aliança das nações e das pessoas pela paz.
Imagino que agora estamos vivendo um novo tempo. É como se as torres fossem atingidas, mas de uma forma mais profunda. Isso significa que o pensamento econômico, que nesse momento, é uma ameaça ao equilíbrio das nações, uma ameaça em vários níveis, deve ser olhado como algo que precisa se submeter ao pensamento humano. Nós, seres humanos, precisamos nos unirmos, porque o pensamento econômico não aspira felicidade em si mesmo. Ele se manifesta simplesmente olhando para números.
Eu tenho tido contato com as organizações do setor produtivo e também executivo do setor produtivo. Tenho dado palestras a eles, faço parte de foros de discussão de como introduzir valores humanos dentro das empresas. A primeira vez que fiz contato com esse setor, pensei: “ Eles são muito difíceis. São pessoas que só pensam em ganhar dinheiro.” Na verdade, isso não é assim. Eles são pessoas como vocês, como nós aqui reunidos. Todos eles aspiram um mundo melhor, todos voltados a isso. Mas como operam dentro de grande organizações, é como se a lógica das grandes organizações não pudesse acessar isso. Então a grande pergunta é assim: “ Como eu, operando dentro dessa organização, posso fazer alguma coisa, nos limites da própria organização?”. O pensamento budista, quando reflete sobre as organizações, vê que diferentemente das inteligências dos seres humanos, dos animais, de toda a biosfera; a inteligência das organizações não tem, em nenhum lugar, a aspiração da felicidade. Mas nós, seres humanos, aspiramos à felicidade. Não há lugar algum dentro das organizações para dizermos: “que os seres humanos superem o sofrimento”. Mas nós, seres humanos, queremos superar o sofrimento.
Esse processo de colocar o pensamento econômico submetido ao pensamento humano, não é algo tão difícil. Porque as donas de casa fazem isso, os pais de família fazem isso. Por exemplo, não teria sentido eu falar a minha filha de 15 anos: “ O papai e mamãe têm te sustentado há 15 anos. Eu não vou cobrar agora isso de você, mas eu já tenho todas as notas guardadas. Naturalmente também não vou cobrar correção monetária. Mas imagino que quando você chegar aos 30 anos, você vai estar forte e pode começar a pagar o papai e a mamãe, pelo investimento que fizemos.” Isso é perfeitamente justo. Nós não olhamos isso. Nenhuma instituição financeira deixaria de cobrar alguma coisa.
Nós, seres humanos, somos capazes de investir a fundo perdido nos outros seres e por isso estamos aqui. Cada um de nós está aqui porque alguém investiu a fundo perdido em nós. Então esse é o procedimento, onde o pensamento econômico, que utilizamos durante a nossa vida (porque se não tivéssemos utilizado o pensamento econômico não conseguiríamos chegar onde estamos), geriu pelo pensamento humano. Eu não sei bem como fazer isso, mas com certeza esse é o nosso desafio. Com certeza um pai de família não vai construir uma central nuclear na sua casa, por menor que ela seja, para aquecer a água do banho, com a certeza de que todas as gerações daquela família vão ter que lidar com aquele material letal, porque ele tomou banho por curtos períodos, na sua vida. Simplesmente isso não tem cabimento.
Por outro lado, deveríamos entender que as lógicas de curto alcance não são interessantes. Quando olhamos o tempo de hoje e esquecemos das gerações futuras, isso não é interessante. Ao olharmos com a nossa mente, apenas o espaço geográfico que habitamos, isso também é muito ruim. Estamos num tempo, em que precisamos olhar a população como um todo do planeta e também as gerações do futuro. Do mesmo modo, precisamos entender nossa cultura do passado, precisamos ainda aprender a ouvir o legado da experiência das tradições de outras culturas. Hoje eu até pensei em me vestir de terno e gravata (em alguns lugares eu vou assim). Já fui várias vezes à Pontifícia Universidade Católica, em Porto Alegre, atendendo a convite para abrir eventos grandes e, em respeito à própria cultura, eu fui de terno de gravata. Hoje eu vim com essa roupa, a roupa tibetana, que meu mestre vestia, especialmente para simbolizar esse encontro de culturas.
Eu não venho aqui para falar do budismo, que o budismo é melhor, nem para dizer que os tibetanos são melhores. Venho trazendo um pouco desse sabor da cultura tibetana que se manifesta através do budismo, porque cada religião, cada núcleo humano, tem a sua riqueza para oferecer à humanidade, a todos os seres. E essa é a nossa riqueza. Nós não precisamos ficar todos iguais. Porque é maravilhoso, eu jamais cantaria como o que eu ouvi hoje aqui. Tivemos esse momento maravilhoso, de música.
Nós todos somos diferentes e isso é muito bonito. Essa diferença é o que nos faz interessantes uns aos outros. Isso é cultura de paz, e isso é complementaridade também, que eu aprendi na física quântica. Nossa capacidade de entender os outros seres no contexto deles, ou a nossa capacidade de olhar para os outros, procurar entendê-los e aceitá-los, mesmo que não entendamos. A essência da complementaridade é isso.
Existem muitos mundos que não são redutíveis uns aos outros. Um dos exemplos disso seria a Medicina: a biologia que estudamos aqui no Ocidente não consegue entender como as agulhas da acupuntura funcionam. Hoje a medicina absorve a cultura sem entender o fundamento, propriamente. O fundamento dos canais, dos ventos, ela não entende propriamente isso. Nós vamos encontrando variáveis tipos de medicina como a própria medicina da homeopatia, que também não é compreendida pela biologia convencional.

Continuação

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Pronunciamento de Lama Padma Samten 3/4

Assim a medicina é um excelente exemplo para aquilo que, na física quântica, chamamos de complementaridade. Porque usamos vários sistemas de pensamento e eles não são redutíveis a uma única visão. Então quando nós tentamos reduzir a cultura toda a uma única visão, perdemos a riqueza. É necessário preservar essa riqueza, diversidade cultural, diversidade das línguas. Agora, quando imaginamos que uma cultura é superior a outra, ou uma religião superior a outra, estamos enganados. A essência da cultura de paz é a complementaridade.
Queria também lembrar Niels Bohr, esse grande mestre da física quântica, um filósofo da física quântica, em 1925 ele propôs a Teoria da Complementaridade, na Itália, em uma época em que todos os físicos do mundo caberiam nessa sala aqui. A partir disso, ele ganhou o prêmio Nobel de Física e essa visão se tornou a visão preponderante da física quântica. Essa visão da física quântica, ele reconheceu também como uma visão pacifista.
Naquele período, os físicos terminaram se engajando no esforço de guerra. Os físicos da Alemanha, no esforço de guerra alemão; alguns migraram para o Estados Unidos e outros físicos, entre eles o Niels Bohr, o Einstein, outros grandes, fizeram parte do esforço de guerra americano, que culminou com a explosão da primeira bomba nuclear. Na seqüência, essa bomba originou os ataques ao Japão, que foi horrível. Quando isso ocorreu, os físicos se reuniram e tentaram reverter o processo.
O presidente Truman teve oportunidade de rir dos físicos. Porque os físicos geraram aquilo, mas eles nunca imaginaram que seria usado desse modo. Eles imaginavam que, o fato de dispor de uma arma dessas, seria uma arma política e que nunca seria usado efetivamente na guerra. Porém, quando isso se deu, a maior parte desses físicos proeminentes, se tornaram pacifistas, entre eles, Niels Bohr e Einstein. Então, Einstein e especialmente Niels Bohr dizem: “A base da cultura de paz é a complementaridade.” Diferentes formas de pensar não podem ser convertidas a uma única forma de pensar. E a diversidade é interessante.
Sob o ponto de vista da filosofia, nós vamos encontrar grandes filósofos, como Wittgenstein e o próprio Niels Bohr, que explicam a razão pela qual não conseguimos um único sistema filosófico de pensamento, que dê conta de todos os fatos. A base disso é o fato de que quando pensamos sobre as coisas, sempre utilizamos uma base filosófica para pensar. Essa base filosófica tem seus méritos, mas também suas limitações. Então não é possível pensarmos sobre as coisas, de forma natural. Pensamos sempre a partir de pressupostos, que limitam o que podemos pensar.
Wittgenstein diz que quando não conseguimos compreender algo dentro do nosso sistema de pensamento, aquilo não pode ser previsto dentro do nosso sistema de pensamento, nós não poderíamos usar isso como argumento para negar a sua realidade. Um exemplo seria, se nós, na medicina convencional, não entendemos as agulhas, não podemos negá-las. Se o nosso sistema de pensamento pudesse entender as agulhas e dissesse que elas não funcionam, então nós poderíamos negá-las. Mas se o nosso sistema de pensamento não consegue nem imaginar como elas operam, então isso é uma fragilidade. Logo, precisamos de um sistema de pensamento que consiga entender as agulhas e ele pode raciocinar sobre o funcionamento ou não delas, sua validade. Seria um sistema de validação da realidade. Wittgenstein diz que a base da cultura de paz está nessa compreensão, de não excluirmos o que não entendemos.
Hoje, podemos não entender as culturas nativas que ainda habitam o nosso solo. Aliás, eles não têm desempregados, não têm periferia urbana, não têm geladeiras, não participam do processo econômico.  A inteligência econômica não consegue vê-los, eles estão entre os seres abaixo da linha de pobreza, mas quando vocês olham para eles, eles não têm desemprego, não têm exclusão social, são integrados, têm saúde, mas eles não participam do processo econômico. Então é como se eles não fossem cidadãos, não tivessem nenhum impacto, nenhum sentido. A cultura de paz significa entendermos eles, no contexto deles. Cada cultura no seu próprio contexto. Esse é o pensamento de Niels Bohr, de Wittgenstein, de Einstein, da física quântica e é pensamento budista também. Esse é o pensamento das múltiplas tradições espirituais.
No que diz respeito ao mundo espiritual, é importante entender essa lição de um mestre espiritual indiano, quando Alexandre, o Grande, invadiu a Índia. Quando ele invadiu a Índia, chegou a uma região e  a dominou. Ele chamou as autoridades locais e disse : “Agora Deus chama-se Zeus.” Um velho sábio se levantou e disse: “Quando o Sol se eleva a leste, passa por diferentes nações. Cada nação onde ele passa, as pessoas apontam e dizem um nome diferente, porém é o mesmo Sol.” Aqui, eu trago isso como lembrança do pensamento de Sua Santidade Dalai Lama. Ele diz: “A nossa natureza é idêntica, não importa a cultura, ou de onde nós viemos, ou a nossa religião. Todos nós temos a mesma natureza.” A compreensão da natureza mais elevada é o objetivo de todas as tradições religiosas. Mas não há duas naturezas mais elevadas. Podemos ter uma diversidade de tradições que aspiram encontrar, com diferentes métodos, com diferentes medicinas, para chegar a esse ponto. Mas a nossa natureza é a mesma. A natureza mais elevada também é a mesma. Essa é a base da cultura de paz dentro das tradições religiosas.
Sua Santidade Dalai Lama também diz, que quando encontramos o que há de mais elevado em nós, talvez não precisemos mais da tradição espiritual. Porque é como se o objetivo dela tivesse sido atingido. Especialmente na tradição budista, está previsto isso. A tradição budista é vista como um barco. Nós atravessamos o rio, abandonamos a margem da ilusão, encontramos a margem da realidade, e podemos abandonar a tradição espiritual, porque o caminho dela foi o de nos levar ao outro lado do rio. Sua Santidade Dalai Lama lembra que quando atingimos esses objetivos, ou somos capazes de seguir verdadeiramente nossas tradições religiosas, isso pode ser feito pela religião ou pelo bom senso. Basta o bom senso e talvez no futuro não precisemos das tradições religiosas.

Continuação

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Pronunciamento de Lama Padma Samten 4/4


Justamente os bancos que julgavam as nações para saber se eram seguras para receber investimentos, quebraram. Estamos vendo o gigantismo da própria GM. Por algum tempo eles foram a maior companhia do mundo, hoje eles estão na oitava posição e suas ações perderam 80% do valor. Estão numa crise, que talvez ameace a própria sobrevivência da empresa. Então não é o gigantismo que garante, mas sim a lucidez.
Quando a Toyota anunciou que se tornaria a primeira companhia do mundo, a GM poderia pensar: “Está faltando lucidez a nós.” Porque a GM perdeu muito no próprio território americano. O que faltou? Lucidez. O que era a lucidez nesse momento? Era a compreensão de que nós vivemos dentro do planeta e que temos limites que vêm da gestão da ecologia, da gestão da natureza, temos o limite na nossa ação. A GM não lembrou disso e continuou fazendo carros gigantescos, enormes e que gastam muito e são muito caros. Repentinamente eles se vêem ultrapassados pela história, a prioridade não é mais essa, mas é a viabilidade. Quando temos lucidez, aproveitamos o tempo e geramos ações coerentes. Se nos falta lucidez, isso pode ser fatal para nós. Se temos arrogância hoje, não nos garante em nada. Se temos o poder, isso não nos garante em nada, porque isso tudo é cíclico. Agora se nós temos lucidez, esse é o ponto. As religiões podem ser um caminho para lucidez, as tradições filosóficas podem ser um caminho para lucidez. É isso que precisamos hoje.
Mas, com certeza, a lucidez vem de mãos dadas com a cultura de paz. Porque todos nós, na base, aspiramos à preservação do planeta, do qual necessitamos e fazemos parte. Então a lucidez é imaginarmos que as nossas ações não podem ser ofensivas a aquilo que sustenta a própria vida.
Nós precisamos cuidar da natureza, precisamos cuidar de nós mesmos, precisamos recuperar a capacidade de olharmos para nós e cuidarmos da nossa própria saúde. A medicina tem se tornado, progressivamente, o lugar onde a consciência do próprio paciente não é mais requisitada. O paciente hoje é analisado por máquinas. O médico já não palpa o paciente, já não examina, ele pede exames. E as máquinas examinam. As indústrias oferecem substâncias a ele. Ninguém o convida a mudar os seus hábitos.
Felizmente hoje o próprio Ministério da Saúde reconhece a importância das terapias complementares e o papel da meditação como uma técnica de cuidado da saúde. No site do ministério, eles colocam que estamos num período, com respeito à meditação, semelhante ao período pelo qual a própria acupuntura passou. Ela foi rejeitada, depois foi aceita, progressivamente incorporada como uma técnica.
Hoje a meditação já está tipificada: suas conseqüências, seus resultados. Fico muito feliz porque essa é uma contribuição especialmente oriental. Nós vamos, dentro desse processo de enriquecimento, através das múltiplas culturas, nós vamos encontrando isso. A introdução da meditação coloca, no paciente, parte da responsabilidade pela recuperação da saúde. Ele não é mais um paciente, propriamente, mas um agente da sua própria saúde. Ele não é passivo, agora é convidado a participar. Vamos encontrar também as terapias naturistas, aqui em Curitiba muito bem representada pelo terapeuta naturista Pedro Devai e pela clínica Oásis, com um trabalho pioneiro, reconhecido em todo o Brasil. As terapias naturistas que tem um trabalho maravilhoso de prevenção da doença e isso é cultura de paz no nosso corpo. Vamos cuidar de nós mesmos. Quando cuidamos de nós mesmos, cuidamos da natureza.
Precisamos desenvolver relações adequadas também, com o poder público. Aqui eu me sinto muito feliz, muito à vontade, porque estou na casa do poder público. Precisamos olhar para os nossos representantes de uma forma elevada, ou seja, dar nascimento positivo a eles, ajudá-los nas suas funções. Os nossos representantes operam sob pressões de vários tipos. Precisamos estar junto deles e ajudá-los a desempenhar suas tarefas do melhor modo. O CEBB (Centro de Estudos Budistas Bodisatva) tem tradicionalmente desenvolvido essas relações. Este ano, tivemos a presença da governadora do Rio Grande do Sul nas relíquias do Buda.
Precisamos então, lembrar dessas várias características: cuidando de nós mesmo, isso é cultura de paz; cuidamos das outras pessoas e isso nos dá felicidade; cuidamos da nossa família e das outras pessoas. Isso produz felicidade imediata. Cuidamos na relação com as autoridades e também na relação com a natureza. Isso é paz. Isso é cultura de paz.
Eu agradeço essa oportunidade e fico imensamente feliz. Eu reconheço o estado do Paraná como pioneiro em muitas iniciativas maravilhosas, na área do meio ambiente, do urbanismo, das empresas. Reconheço, por exemplo, a Federação das Indústrias do Paraná. O Dr. Rodrigo Loures, um amigo pessoal, esteve recentemente no Centro Budista, no encontro que discutimos budismo e sociedade. Ele tem um livro maravilhoso sobre educação, sobre como promover o diálogo, em vários níveis. Esse método que se originou no oriente, foi para os Estados Unidos, foi incorporado pelos americanos e mais adiante surge no seio das organizações empresariais como o método de investigação apreciativa. É um método extremamente democrático de gestão, muito hábil para aproveitar a inteligência de cada um de forma organizada e sem conflito. Estamos utilizando esse método também para estabelecer cultura de paz nas regiões ao redor do nosso centro, com as populações. Isso reduz a necessidade de investimento público, melhora todos os indicadores sociais, com um valor muito baixo. Faz com que a população melhore.
Então nós estamos nesse tempo mágico. Curitiba, Paraná é líder. Eu reconheço esse papel maravilhoso e me sinto muito feliz, muito à vontade como cidadão honorário do Paraná.

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Prajnaparamitta de Lua Cheia e a Sabedoria Discriminativa

Nesta quinta feira, dia 8 às 19h30, teremos prática de Prajna de Lua Cheia. E MA HO! Somos todos naturalmente livres, mesmo quando não vemos a liberdade. Alegria!!


Amitaba, o Buda da Luz Infinita, Senhor da família Padma (Lótus: Compaixão), Sabedoria Discriminativa - cor vermelha - que indica o Caminho da Liberação de todo o sofrimento dissolvendo todas as dificuldades e obstáculos.

Entraremos no mês do Buda Amitabha, regido pela cor vermelha, que purifica o carma do desejo. Trabalha a impermanência, a morte, os apegos sem procurar culpados (http://encontrossemanais.blogspot.com/2011/12/as-5-sabedorias-por-lama-padma-samten.html)

Amitabha tem um especial comprometimento com a iluminação de todos os seres, sendo conhecido como o Buda da transferência da consciência na hora da morte, a passagem pelo bardo da morte, sendo objetivo dos que o cultuam alcançar a iluminação ou renascer na Terra Pura de Amitabha, de onde se alcança a iluminação. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Amitaba) Esta morte pode ser encarada também pela a morte de uma identidade.

Representa a sabedoria discriminativa, que tem por base a lucidez e a serenidade. No contexto da prática educativa constitui o eixo de compreensão que nos permite diagnosticar obstáculos, orientar e prescrever métodos. (http://institutocaminhodomeio.org.br/escola-infantil/proposta-pedagogica)

Data: Quinta-feira, 8 de março de 2012
Horário: 19:30
Local: CEBB Curitiba
Rua: Conselheiro Carrão, 1155 - Alto da XV  Curitiba



Saiba mais, ouvindo o Lama Samten no youtube:
http://www.youtube.com/watch?v=k36VU5lE8G8