Pronunciamento de Lama Padma Samten 4/4


Justamente os bancos que julgavam as nações para saber se eram seguras para receber investimentos, quebraram. Estamos vendo o gigantismo da própria GM. Por algum tempo eles foram a maior companhia do mundo, hoje eles estão na oitava posição e suas ações perderam 80% do valor. Estão numa crise, que talvez ameace a própria sobrevivência da empresa. Então não é o gigantismo que garante, mas sim a lucidez.
Quando a Toyota anunciou que se tornaria a primeira companhia do mundo, a GM poderia pensar: “Está faltando lucidez a nós.” Porque a GM perdeu muito no próprio território americano. O que faltou? Lucidez. O que era a lucidez nesse momento? Era a compreensão de que nós vivemos dentro do planeta e que temos limites que vêm da gestão da ecologia, da gestão da natureza, temos o limite na nossa ação. A GM não lembrou disso e continuou fazendo carros gigantescos, enormes e que gastam muito e são muito caros. Repentinamente eles se vêem ultrapassados pela história, a prioridade não é mais essa, mas é a viabilidade. Quando temos lucidez, aproveitamos o tempo e geramos ações coerentes. Se nos falta lucidez, isso pode ser fatal para nós. Se temos arrogância hoje, não nos garante em nada. Se temos o poder, isso não nos garante em nada, porque isso tudo é cíclico. Agora se nós temos lucidez, esse é o ponto. As religiões podem ser um caminho para lucidez, as tradições filosóficas podem ser um caminho para lucidez. É isso que precisamos hoje.
Mas, com certeza, a lucidez vem de mãos dadas com a cultura de paz. Porque todos nós, na base, aspiramos à preservação do planeta, do qual necessitamos e fazemos parte. Então a lucidez é imaginarmos que as nossas ações não podem ser ofensivas a aquilo que sustenta a própria vida.
Nós precisamos cuidar da natureza, precisamos cuidar de nós mesmos, precisamos recuperar a capacidade de olharmos para nós e cuidarmos da nossa própria saúde. A medicina tem se tornado, progressivamente, o lugar onde a consciência do próprio paciente não é mais requisitada. O paciente hoje é analisado por máquinas. O médico já não palpa o paciente, já não examina, ele pede exames. E as máquinas examinam. As indústrias oferecem substâncias a ele. Ninguém o convida a mudar os seus hábitos.
Felizmente hoje o próprio Ministério da Saúde reconhece a importância das terapias complementares e o papel da meditação como uma técnica de cuidado da saúde. No site do ministério, eles colocam que estamos num período, com respeito à meditação, semelhante ao período pelo qual a própria acupuntura passou. Ela foi rejeitada, depois foi aceita, progressivamente incorporada como uma técnica.
Hoje a meditação já está tipificada: suas conseqüências, seus resultados. Fico muito feliz porque essa é uma contribuição especialmente oriental. Nós vamos, dentro desse processo de enriquecimento, através das múltiplas culturas, nós vamos encontrando isso. A introdução da meditação coloca, no paciente, parte da responsabilidade pela recuperação da saúde. Ele não é mais um paciente, propriamente, mas um agente da sua própria saúde. Ele não é passivo, agora é convidado a participar. Vamos encontrar também as terapias naturistas, aqui em Curitiba muito bem representada pelo terapeuta naturista Pedro Devai e pela clínica Oásis, com um trabalho pioneiro, reconhecido em todo o Brasil. As terapias naturistas que tem um trabalho maravilhoso de prevenção da doença e isso é cultura de paz no nosso corpo. Vamos cuidar de nós mesmos. Quando cuidamos de nós mesmos, cuidamos da natureza.
Precisamos desenvolver relações adequadas também, com o poder público. Aqui eu me sinto muito feliz, muito à vontade, porque estou na casa do poder público. Precisamos olhar para os nossos representantes de uma forma elevada, ou seja, dar nascimento positivo a eles, ajudá-los nas suas funções. Os nossos representantes operam sob pressões de vários tipos. Precisamos estar junto deles e ajudá-los a desempenhar suas tarefas do melhor modo. O CEBB (Centro de Estudos Budistas Bodisatva) tem tradicionalmente desenvolvido essas relações. Este ano, tivemos a presença da governadora do Rio Grande do Sul nas relíquias do Buda.
Precisamos então, lembrar dessas várias características: cuidando de nós mesmo, isso é cultura de paz; cuidamos das outras pessoas e isso nos dá felicidade; cuidamos da nossa família e das outras pessoas. Isso produz felicidade imediata. Cuidamos na relação com as autoridades e também na relação com a natureza. Isso é paz. Isso é cultura de paz.
Eu agradeço essa oportunidade e fico imensamente feliz. Eu reconheço o estado do Paraná como pioneiro em muitas iniciativas maravilhosas, na área do meio ambiente, do urbanismo, das empresas. Reconheço, por exemplo, a Federação das Indústrias do Paraná. O Dr. Rodrigo Loures, um amigo pessoal, esteve recentemente no Centro Budista, no encontro que discutimos budismo e sociedade. Ele tem um livro maravilhoso sobre educação, sobre como promover o diálogo, em vários níveis. Esse método que se originou no oriente, foi para os Estados Unidos, foi incorporado pelos americanos e mais adiante surge no seio das organizações empresariais como o método de investigação apreciativa. É um método extremamente democrático de gestão, muito hábil para aproveitar a inteligência de cada um de forma organizada e sem conflito. Estamos utilizando esse método também para estabelecer cultura de paz nas regiões ao redor do nosso centro, com as populações. Isso reduz a necessidade de investimento público, melhora todos os indicadores sociais, com um valor muito baixo. Faz com que a população melhore.
Então nós estamos nesse tempo mágico. Curitiba, Paraná é líder. Eu reconheço esse papel maravilhoso e me sinto muito feliz, muito à vontade como cidadão honorário do Paraná.

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